quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

T.O.C?

Transtorno Obsessivo Compulsivo (T.O.C.)

Trata-se de um TRANSTORNO PSIQUIÁTRICO, uma doença crônica de evolução variável, que pode surgir de forma abrupta, desencadeada ou não por algum evento estressor. É mais comum na adolescência e vida adulta do que na infância.

Muitas pessoas costumam confundir a personalidade obsessiva compulsiva com o transtorno em si. Podemos ter um parente, um amigo, um vizinho que age de forma ritualística e metódica apresentando uma forma insegura de se relacionar com a realidade. Neste caso, estaremos diante da Personalidade Obsessiva Compulsiva. O Ego (ou o nosso eu, concebido como um pólo de defesa ou de adaptação à realidade) é sintônico. Em outras palavras, aqui o indivíduo não sente que seus traços de personalidade ou comportamento são questionáveis ou estranhos o que auxilia, por exemplo, na profissão, não prejudicando a relação.

Já o T.O.C. é algo estrutural (está na base da formação de nossa personalidade) determinando uma inibição na conduta social e na adaptação do indivíduo com o meio. Neste caso, o Ego é distônico. Ou seja, ele sente que há algo nele que não está certo ou não vai bem, características estas comuns nos neuróticos, causando no indivíduo uma ansiedade e um sofrimento real.

Entre as possíveis causas do Transtorno Obsessivo Compulsivo, podem destacar-se as biológicas e as psicológicas.

Sob o ponto de vista biológico acredita-se que o T.O.C. seria ocasionado por uma disfunção de neurotransmissores em certas regiões do cérebro, podendo ter uma base genética.

Já sob o ponto de vista psicológico, crê-se que este transtorno seja originário de um ambiente infantil rígido, controlador, exigente, ameaçador, onde o indivíduo pode ter sido desvalorizado, desprezado e até humilhado, o que o leva a uma fixação na fase oral de retenção. As condutas obsessivas seriam, portanto, uma forma de domínio sobre a angústia sentida, sendo expressa através da ritualização. Em outras palavras, podem ser vistas como maneiras de conter as pulsões vividas como perigosas e destrutivas.

No que diz respeito a etiopatogenia da neurose obsessiva há uma herança, não genética, mas sim familiar da ansiedade, de como ela é controlada.

Para se defender dos conflitos gerados internamente e no contato, o indivíduo utiliza-se de vários mecanismos defensivos, tais como : isolamento de afeto, intelectualização, formação reativa, anulação e deslocamento.

Neste sentido, o indivíduo pode, por exemplo, isolar um comportamento ou idéia de tal forma, que suas ligações com outros pensamentos ou com o autoconhecimento ficariam interrompidas, banidas da consciência. Ou ainda, apresentar comportamentos contrários a um desejo subjacente. Por exemplo, a mania de limpeza num indivíduo seria uma formação reativa contra o desejo de envolver-se com a sujeira ou seus representantes. Outros podem também se utilizar da anulação retroativa. Neste caso o indivíduo pode abrir a porta, fechar, abrir novamente como forma de anular o primeiro comportamento ou o pensamento anterior. Ë também comum aqueles que transferem um pensamento ou sentimento de uma pessoa para outra que não tem relação com a causa original. Ex.: Meu chefe briga comigo, me sinto humilhado e com raiva e desloco este sentimento para minha esposa. Quando chego em casa brigo com ela por algo sem importância descontando a minha ira. Ou ainda, posso ter uma experiência ruim com um dentista e generalizar meu comportamento de precaução ao me relacionar com os outros profissionais desta categoria.

Em geral os indivíduos com Transtornos Obsessivos Compulsivos (TOC) sofrem de grande insegurança por causa do rebaixamento de sua auto-estima, demonstrando grandes anseios por dependência que não foram preenchidos, além de uma grande raiva dirigida aos pais que não estiveram disponíveis quando foram necessários. Essa necessidade de proteção e cuidados, entretanto, é negada pelos pacientes que fazem questão de repudiar qualquer dependência que possam ter das pessoas mostrando distanciamento, austeridade e individualismo.

O trabalho com esses pacientes é muito complicado por causa de sua dificuldade, não só de expressar seus impulsos agressivos, como também de reconhecer os reais sentimentos que estão subjacentes às suas obsessões.

Pode-se dizer, assim, que os principais sintomas primários do TOC são as obsessões, compulsões e dúvidas constantes e infindáveis. O indivíduo nunca consegue decidir-se por esse ou aquele comportamento ficando dependente dos outros para tomar suas decisões, para ter uma crença ou decidir sobre seu futuro.

Observa-se que, na OBSESSÃO, os pensamentos, idéias, imagens, cenas invadem a consciência da pessoa de forma repetitiva, estereotipada, persistente, sendo seguidos ou não de rituais para neutralizá-los (outros pensamentos ou ações). Como são sentidos como inadequados, geram ansiedade e desconforto (ex.: obsessão sexual, de morte, contaminação, doença, de ser ferido, palavras, números).

As idéias obsessivas por serem extremamente rígidas, obstinadas, estáveis e carregadas afetivamente são muito difíceis de serem modificadas.

Já na COMPULSÃO observam-se comportamentos repetitivos, que são utilizados como forma de aliviar a ansiedade, destacando-se entre estes : lavar as mãos inúmeras vezes seguidas, limpar a casa constante e desnecessariamente, não pisar em quadrados, conferir coisas, contar e ordenar objetos, fazer a arrumação minuciosa de objetos, praticar rezas ritualísticas, fazer revisões constantes de atos executados, etc.

Além destas, existem ainda as compulsões automutiladoras como, por exemplo, coçar a pele até machucar, morder-se, cortar-se, roer unha até sangrar os dedos, coprolalia (impulso mórbido que leva o indivíduo a proferir obscenidades), tocar algum objeto,etc.

De forma geral, pode-se dizer que, a compulsão, tanto mental como motora, tem como objetivo desfazer ou neutralizar as obsessões. Exemplificando : um indivíduo pode achar que vai ser assaltado se não der três batidas na mesa de madeira antes de sair de casa ou cuspir sempre para que sua mãe não adoeça.

Pacientes de TOC também podem demonstrar muitos sintomas secundários como depressão, fúria, perturbações perceptuais e dificuldades sexuais. O sentimento de raiva, geralmente, só é manifestado quando alguém interfere nas compulsões do indivíduo. Vale lembrar, que nestes casos, estas pessoas acabam até por agredir física e verbalmente seus familiares diante da recusa na cooperação da execução de uma compulsão ou por tentarem impedi-lo que se ocupe desta.

Pode-se dizer que, os indivíduos que sofrem desta patologia são rígidos consigo próprios. Como ora eles cedem aos seus desejos, ora fazem cobrança de seus atos, costumam apresentar comportamentos ambivalentes que geram culpa e ansiedade, dando origem às idéias obsessivas (ex.: se eu não fizer isto, meu pai morre).

É comum também verificar-se entre os portadores de T.O.C. as dificuldades de relacionamento, pela presença da ansiedade elevada no contato, seja por medo da desaprovação ou da perda. O controle é feito para não perder a organização egóica. Quando alguém tira algo dele, ele começa a se desorganizar e desloca sua ansiedade para a repetição, pois não tem estrutura para lidar com a perda e o luto. Seu raciocínio é voltado às minúcias e aos detalhes.

A Psicanálise e as terapias comportamentais e ocupacionais visam diminuir os comportamentos compulsivos. Dependendo da gravidade dos sintomas o tratamento medicamentoso é recomendável para o controle da depressão e ansiedade, que inevitavelmente surgem nestes tipos de paciente.

Como comentado anteriormente, tratar dos pacientes que apresentam este transtorno não é fácil, pois mesmo que os sintomas sejam ego-distônicos e o indivíduo saiba que aquilo não está de acordo com sua vontade consciente, ele terá dificuldades de atuar em seu próprio beneficio. Isto porque o controle tem uma função de protegê-lo contra algo que o ameaça de forma intensa e perigosa, o que faz com que ele se agarre ao mesmo de forma obstinada.

Mas, mesmo sendo um tratamento de difícil manejo, ainda assim é possível ter sucesso com esses pacientes quando utilizadas as técnicas acima mencionadas. Por isso, não deixe de procurar ajuda profissional se você ou alguém de seu convívio apresentar este Transtorno. Com certeza, unidos poderemos encontrar uma melhor solução para este conflito.

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