terça-feira, 29 de maio de 2012

Cabeleira* - maramarina Eu ando por aí com meu cabelo alto, africano crespo, rebelde natural, Ameaçador aos lambidos, escovados, presos, embriagados em gel e cremes sem enxágüe, ideal para todos os tipos de cabelos. Abaixo as presilhas! Eu ando por aí de cabelos secos, soltos. O mundo me olha por isso. As crianças têm medo de mim. Umas olham impressionadas: sou a mulher gorila do circo (Monga nas calçadas da grande cidade- não há truques). Umas olham sorridentes: sou algum personagem, assistente de palco de programa infantil (roupas coloridas e uma peruca engraçada). . E meu cabelo cresce a cada passo. Ele não cresce, ele incha a cada passo. Sobe mais. Eles olham mais. E eu rio deles. De mim. De poder fazê-los rir. Sinto este poder. Este e outros. O poder da autonomia. Da coragem e da liberdade. Da transgressão. De ser superior a algumas cabeças. De meu cabelo me fazer maior que eles. Me diverte e me orgulha ser oportunidade para acreditarem na ilimitação do comportamento imprevisível. Eu sou seu monstro. Surgi calma, carregando um cabelo, que sobe a cada dois segundos. Não sou uma louca de rua. Não sou mendigo. Não sou artista. Não sou um personagem. Não, não sou Monga, nem trabalho com a Vovó Mafalda. Também não sou hippie. Desculpe, não tenho licença poética para andar entre vocês tão à vontade. . Sou uma menina que trabalha, descendente de África, que me deu cabelo duro. Que o solta. Um cabelo que o vento não assanha, que a água não despenteia. Ele não é penteável. Ele é independente de mim, de pentes, escovas, cordões ou cremes. Ele é invejável, não? Você gostaria de andar com ele? Não com ele, mas com o seu, natural. Assumi-lo. Liso, em cachos, brancos, tingidos ou alisados. Como você o quer. Livre de conselhos e imagens de belas atrizes. Você não é belas atrizes. Você é bela. Com seu cabelo. . Amo as pessoas me olhando. Elas me divertem. Como são estranhas. Como me estudam. Como me compreendem. Admiram a dança dos fios com o vento. Admiram eu não passar a mão para colocá-los no lugar. Mas é que eles não têm lugar. E tento segui-lo. Tento ser ele meu guia. Transformar-me neste incontável número de fios libertos. Eu ando por aí, coroada com esse meu cabelo “ruim” feliz, sendo invejada.

Um comentário:

  1. parabéns pelo blog, pelas ações positivas e iniciativas. abraços.

    Surama
    www.artesurama.blogspot.com

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